Ela ainda tem força?
- Hugo Pereira e Helio Lima
- 25 de nov. de 2015
- 5 min de leitura
Terceira força nas duas últimas eleições, Marina Silva acabou falhando, deixando em aberto a disputa por votos apartidários.

Marina Silva. Fonte: Reprodução
O cenário da última eleição presidencial se tornou interessante após o trágico acidente com o candidato pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro), Eduardo Campos. Com a fatalidade, que infelizmente tirou a vida do presidenciável, entrou em cena a candidata Marina Silva, que fazia parte da chapa de Eduardo, mas apenas como candidata a vice-presidente. Marina já era conhecida da maioria dos brasileiros, pois em 2010, já havia concorrido à presidência da república pelo PV (Partido Verde), tendo bom desempenho e terminando a disputa em terceiro lugar. Sendo assim, logo despertou a atenção de eleitores que estavam indecisos e buscando outra opção de voto, visto que Dilma Rousseff e Aécio Neves já estavam desgastados entre os eleitores.

“Marina foi uma alternativa ao processo que estava indicando uma disputa entre apenas dois partidos. Ao surgir como terceira via, conseguiu reunir os descontentes com a disputa entre apenas duas legendas”. Comentou Roberto Nonato, jornalista, âncora da rádio CBN e experiente em coberturas políticas, incluindo 2014.
O jornalista Roberto Nonato Fonte: reprodução
Na mesma linha de raciocínio, o Jornalista Político da revista Isto É, Alan Rodrigues que também foi responsável pela cobertura da campanha de Marina nas duas últimas eleições, afirma: “Os eleitores brasileiros estão cansados com as alternativas PT e PSDB, e acabam descarregando votos em uma terceira via, e Marina representa essa terceira via”.
Mesmo sendo a alternativa escolhida pelo eleitor apartidário e chegando a ter, segundo o IBOPE 29% das intenções de votos, em setembro de 2014, Marina acabou cometendo equívocos no restante da campanha eleitoral: mau desempenho nos debates e um plano de governo com indecisões, foram alguns dos fatores que inviabilizaram uma performance mais eficaz da candidata. Alan Rodrigues, informa: “Ela não é uma figura política que consegue unificar os votos dessa terceira via, se não ela já estaria eleita. Ela tem muita dificuldade no trato (relacionamento) com as pessoas e principalmente com o eleitor comum. Tem um discurso, por muitas vezes, sofisticado e apesar de sua origem, possui grande distância dos eleitores das classes mais baixas da sociedade”. Disse Alan, quando questionado a respeito de outros erros cometidos pela ex-candidata que impediram ela de conquistar alguns votos.
Roberto Nonato analisa que: “o crescimento [de Marina nas intenções de votos] foi muito rápido e houve tempo de uma mudança de cenário para o outro candidato de oposição que acabou enfrentando a candidata oficial (Aécio e Dilma se enfrentaram no segundo turno). Clareza nas propostas e falta de possibilidade execução das mesmas, pode ter sido algo que faltou à candidata”.
Apesar de ter passado tanto tempo à frente de Aécio Neves na disputa por uma vaga no segundo turno, Marina não conseguiu manter a mesma porcentagem de intenções de votos na reta final da eleição e acabou ficando de fora da luta presidencial, tendo 20% dos votos contra 35% do candidato tucano.
Pós-eleitoral
O pós-eleitoral de Marina costuma ser um tanto quanto confuso. Desde sua decisão sobre quem apoiar no segundo turno, fato que gera muitas críticas para a candidata, até seu misterioso “sumiço”, vindo há aparecer algum tempo depois em outra sigla. É aí que surge uma das maiores questões de Marina: o afastamento dos holofotes após as eleições. Mas para especialistas do universo político, a ex- candidata parece acertar ao sair da mídia." Eu acho que ela acerta em não se envolver em um cenário tão turbulento. Ela é contra o golpe [referindo-se ao impeachment] , e bem diferente do Aécio, qua está muito queimado, ela busca aparecer na hora certa'', avaliou Alan Robrigues, ao explicar a estratégia de Marina. Eleitores da ex-ministra na última eleição também compartilham da mesma opinião: "Hoje, ela [Marina] está um pouco sumida porque na atual situação do país, onde o governo está passando por um procasso desestrutural, com denúncias e investigações, Marina prefere se afastar e não sair no prejuízo", disse a estudante de jornalismo, Raira Diniz, quando questionada sobre a não evidência de Marina no cenário atual.
No atual clima político vivido aqui no Brasil, o candidato que menos se envolver com polêmicas, terá seu nome livre da boca do "povão" e isso tende a ser um ponto positivo. E essa estratégia de fugir da confusão também explica os outros pós-eleitorais em que Marina "se escondeu", visto que tivemos por diversos momentos, escândalos envolvendo o governo e partidos de opisição. Os dois exemplos que mais tiveram impactos, foram o Mensalão, descoberto em 2005 e julgado em 2012, abrangendo dois períodos pós-eleitorais e o caso do metrô de São Paulo, que envolveu a oposição fortemente, no qual qualquer político alí citado poderia se prejudicar.
Indecisão e forte personalidade influenciam no desempenho de Marina

Entre 2003 e 2008, Marina Silva foi ministra do Meio Ambiente no governo Lula e após alguns problemas, acabou se desligando do partido dos trabalhadores. Sua ligação com a esquerda no passado foi bem participativa e muito disso atrapalha o desenvolvimento de ideiais conservadores, defendidos e apresentados pela candidata em suas campanhas. “A figura de Marina é muito associada ao PT, isso desde a sua fundação. Ela foi vereadora e construiu sua vida política no partido dos trabalhadores, tendo uma história de militância política no partido e derrepente saiu. O que se comenta nos bastidores, é que ela teve um rompimento com Dilma, após Lula ter escolhido a Dilma para ser candidata. Ela pensava que seria ela a escolhida, aí ficou com raiva e saiu do partido, com o discurso que era um problema ambiental”, revelou Alan, ao comentar sobre a saída de Marina do PT.
Marina pussui forte personalidade. Foto: Reprodução
Sobre essa "ambição" de Marina, Roberto Nonato enxerga com naturalidade a troca de partido: "a candidata já tinha um histórico político, então, era natural que tentasse algo maior!" , diz.
Todos os caminhos que Marina procurou percorrer levaram a criação de seu próprio partido, visto que a ex-candidata teve problemas de relacionamento na maioria das siglas que passou. Seu modo de agir e pensar que já apresentamos, podem ter influenciado nisto. "Marina tem um sério problema de relacionamento, dificultando a participação de algum projeto com ela. A ex-ministra é autoritária e quer um partido pra controlar, agora ela tem A Rede e a gente vai acompanhar como vai ser", enfatizou Alan Rodrigues, expondo sua experiência em relação a ex-candidata.
Com a criação da nova sigla, a parlamentar tem como desafios: segurar os 20 milhões de votos conquistados na última eleição e ainda tentar ser diferente da oposição que tanto erra. Alan Rodrigues tem uma perspectiva bem pessimista em relação ao sucesso de Marina Silva na próxima disputa presidencial."Acho que não terá sucesso, pois o eleitor não olha muito o partido e sim o candidato. O discurso ambientalista, por muitas vezes não agrada a classe de eleitores que ela precisa alcançar. Por exemplo, no Acre [Estado de Marina], onde já fui várias vezes, as pessoas desaprovam o fato de não poder arrancar uma árvore para contruir uma empresa (exemplificou), o povo lá precisa trabalhar e a situação não é boa. Ela não consegue alinhar o dicurso. Falta discurso!", exclamou Alan, ao fazer uma análise futura de chances da ex- presidenciável nas eleições de 2018.
Em sua maioria, os eleitores brasileiros estão bem insatisfeitos com a política e necessitam de mais opções para poderem comparar e escolher melhor o voto. Marina funcionou bem como essa terceira opção, mas, por suas más escolhas, acabou sendo derrotada e deixando a briga eleitoral, ainda mais centrada em apenas dois partidos. Agora com A Rede Suatentabiliddade, se prepara na tentativa de voltar a ser a primeira opção dos apartidários. Aguardemos os próximos dilemas de Marina Silva.
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