"Shabbat Shalom!"
- Por Hugo Pereira
- 2 de nov. de 2015
- 7 min de leitura

Conheça um pouco sobre os costumes e as tradições da cultura judaica. Foto: Reprodução
Com tantos povos e nações que existem espalhados pelo mundo, curiosidades a respeito de determinadas etnias sempre surgem e geram intermináveis questionamentos. Até o fim do século XX existiam cerca de 57 nações no mundo. Hoje, o número de nações triplicou e segundo a ONU (Organização das Nações Unidas) a quantidade de países atualmente é de 191, sendo assim, torna-se importante conhecermos culturas que ganharam destaque ao longo da história da humanidade.
Por diversas vezes, nos deparamos com ritos e tradições de diferentes pessoas em nossa sociedade, algumas bem curiosas. Por exemplo, no dia 24 e 25 de outubro de 2015 foi realizado o Enem (exame nacional do ensino médio) e diversos alunos, denominados sabadistas, ficaram confinados em uma sala durante 7 horas por conta de suas convicções religiosas, já que não poderiam realizar a prova no horário tradicional. Entre eles estavam estudantes judeus que praticam o chamado "shabāt" (dia de descanso), que além de ser um dia de repouso tem para este povo um significado muito maior.
O exemplo que ocorreu no Enem é aproveitável para entendermos um pouco dos costumes do povo judaico, às vezes visto de forma diferente pelas tradições ocidentais e etnias que não conhecem esta cultura, uma das mais importantes na construção composição da sociedade brasileira. Além do sábado, o povo judeu possui uma quantidade enorme de práticas, que para eles são sagradas e os colocam como classe única se tratando de apego a tradições e simbolismos. Vejamos algumas delas:
Sinagogas

Sinagoga Israelita Paulista Beth El no Jardins, São Paulo. Foto: Reprodução
É o local de culto judaico. Judeus de todo o mundo têm como costume a ida até as sinagogas principalmente nos dias de sábado. O nome se deriva do grego synagoge, que significa “juntos aprendendo”. Nosso primeiro entrevistado para a reportagem, o judeu Felipe Moshe, é publicitário, trabalha há 15 anos a serviço da comunidade judaica em Curitiba e desenvolve trabalhos de agenciamento de turismo para Israel.
Ele destacou alguns pontos interessantes de uma sinagoga e sua importância: “Nas sinagogas desde os dias de Edras e Niemias, quando foram estabelecidos os sábios e grande assembleia (acontecimentos da história judaica, registrados na bíblia sagrada), desde aquela época foram estabelecidas as sinagogas, onde os judeus se reuniriam para buscar a Deus. A sinagoga não é um templo, é um local onde nos reunimos para estudo e para momentos devocionais”, explica Moshe.

Felipe Moshe em sua visita à Terra Santa. Foto: Arquivo pessoal
Diferentemente do que muitos pensam, as programações nas sinagogas ocorrem todos os dias. O Rabino Eduardo Levinzon, que é responsável pela sinagoga ESPAÇO K, situada no bairro de Higienópolis em São Paulo, nos contou como funcionam os cultos no recinto judaico. “Olha, existem rezas todos os dias, porém o principal dia é o sábado. Todos rezam guiados por um cantor que vai à frente”, informou Eduardo.
Nas grandes cidades do mundo, judeus procuram morar em bairros próximos as sinagogas. Moshe destaca uma região no centro de São Paulo. “Quando você vai, por exemplo, no bairro do Bom Retiro é possível ver várias sinagogas próximas e vários judeus que vivem naquele bairro, por conta até da logística e de várias lojas que comercializam produtos judaicos”. Completou Moshe.
Todos os sábados são estudados trechos da "torá" (os cinco primeiros livros da bíblia, também chamado de pentateuco). O estudo segue uma sequência anual e todos têm a possibilidade de ter o mesmo nível de conhecimento que os outros.
Rabinos
Uma das figuras mais importantes na cultura judaica é o rabino, que inclusive é instrumento essencial para o funcionamento das sinagogas. Considerado o “doutor da lei” ou mestre, o rabino, ao contrário de outras culturas não é um sacedorte, mas possui uma função importantíssima nos ensinos e nas influências do judaísmo.
O rabino Levinzon nos explica suas responsabilidades dentro da comunidade. “Rabino é um papel de liderança dentro da comunidade judaica, muitas vezes ele é dono de uma sinagoga, mas não necessariamente precisa ter uma. Nós temos que fazer provas de rabinato, estudamos bastante as leis que regem a religião, o que é algo bastante complexo. O rabino é um ser humano como todos os outros (risos), não é nem um santo e nem um anjo, tem qualidades e defeitos, tendo que lutar contra eles. Entretanto, este mestre se propõe a estudar com as pessoas, a ajudá-las e de uma forma geral liderar uma comunidade, sempre tentando tirar o melhor de cada pessoa", ressalta Eduardo.
Completando a fala do rabino Eduardo Levinzon, Felipe Moshe também dá seu parecer sobre a função do rabino. “Em geral é uma pessoa que possui um grande conhecimento bíblico, sabedoria e temperança para poder guiar o povo. Normalmente ele utiliza todos os dias da semana para fazer aconselhamentos e no sábado se reúne com os irmãos judeus.

O rabino Eduardo Levinzon, segurando um "shofar", espécie de berrante judaico.
Foto: Arquivo pessoal
Festas
Quando se trata de entender os costumes judaicos, devemos ter a consciência de que esse povo é regido pelas leis bíblicas e que a maioria das cerimônias são com o intuito de adoração ao que eles chamam de “o Deus de Israel”. O ciclo de festas judaico é equivalente a sete sábados, ou seja, sete datas importantes e sagradas que completam o calendário judeu. São festas como “dia do perdão”, “páscoa” e “pentecostes”. Felipe Moshe agora cita e explica algumas das cerimônias israelitas:
Páscoa (Pessach)
"A Páscoa, que é a primeira festa do ano, cai no período do mês de abril, para nós começa no mês de Nissan, de quatorze à vinte um. É uma festa que dura uma semana e nos lembra de onde nós viemos e para onde nós vamos. Neste dia fazemos um jantar onde nós contamos a história da saída do povo hebreu do Egito. Isso é para sempre nos lembrar que é Deus quem guia nossos passos.” Explicou Moshe, sobre a celebração que comemora a libertação do povo israelita do cativeiro no Egito, no qual durou 430 anos (datado pelo calendário judeu há 1060 a.C.).
Pentecostes (Shavuot)
“Cinquenta dias após a páscoa nos temos a festa de Pentecostes, que simboliza a entrega da lei para o povo de Israel. Deus nos tirou do Egito na Páscoa e no Pentecostes Moisés subiu ao monte Sinai para receber a lei divina. Na Páscoa, nós saímos do Egito e passamos a ser um povo livre. Só pode ser livre um povo se tiver uma legislação e uma terra, esse é um motivo de festa pra nós, pois comemoramos o dia em que Deus deu a lei que rege o povo de Israel”, se referindo aos dez mandamentos, descritos na Bíblia Sagrada no livro de Êxodo, capítulo 20.
Dia do perdão (Yom kipur)
“O dia do perdão representa o dia em que o sumo sacerdote entrava no ‘santo dos santos’, local dentro do tabernáculo e depois posteriormente no templo construído por Salomão (personagem bíblico e antigo rei de Israel), para oferecer um sacrifício de expiação em favor dos pecados do povo. Então, este é um dia para perdoar, jejuar e buscar a Deus mais intimamente, além de ser o dia de perdoar também o nosso próximo”, completa Felipe.
Dificuldades em nosso país
Atualmente, no Brasil, o judaísmo conta com cerca de 100 mil seguidores da religião em nosso território. Mesmo distante de sua terra natal, o povo judeu continua mantendo seus costumes e tradições como o sábado, a ida à sinagoga e outros ritos que o caracterizam. Falou à nossa reportagem sobre como é praticar o judaísmo no País o assessor geral da presidência do Clube da Associação Hebraica de São Paulo, José Luiz Goldfarb (Foto: Reprodução):

“Participo ativamente na vida cultural judaica no Brasil. Considero que a comunidade, ainda que pequena frente a grande população brasileira, está muito presente na vida cultural do país, seja nas artes, seja nas universidades. Em São Paulo realizamos, por exemplo, o Festival de Cinema Judaico que em 2016 completará 20 anos. É um dos melhores festivais do gênero no mundo e atrai um grande público da comunidade em geral”, cita Goldfarb.
Quando questionado sobre os costumes judaicos praticados no Brasil, ele afirma que “há ritos mais religiosos que são realizados em dezenas de sinagogas espalhadas pelo país, principalmente em São Paulo. Há ainda outros ritos realizados no próprio lar das famílias como a páscoa judaica, porém, o judaísmo não se resume a estes rituais e podemos afirmar que o culto ao estudo, à leitura, ao permanente aprendizado são uma das mais importantes práticas judaicas, muito presente no judaísmo brasileiro”, observa.
Ele terminou falando sobre as diferenças encontradas pelos judeus que chegam ao nosso País: “Todo imigrante sofre com mudanças. Clima, língua, costumes… mas meus avós foram recebidos com muito carinho e apoio no Brasil e aqui faleceram muito felizes da opção em emigrar para cá. Acho que a dificuldade sempre existe, mas o Brasil talvez seja um dos melhores países para o imigrante. A integração é muito facilitada”, concluiu.
No Brasil também existem algumas associações que trabalham em prol da cultura judaica, com o intuito de preservar e proteger os costumes exercidos por este povo. Como exemplo, temos em São Paulo, a Fisesp (Federação Israelita do Estado de São Paulo) e sabendo da importância dessa fundação, conversamos, por telefone, com o diretor institucional, Alberto Milkewitz, que esclareceu muitas coisas a respeito do trabalho da Federação e também opinou sobre a contribuição judaica na cultura brasileira. Ouça a entrevista abaixo:
Todas as culturas possuem sua importância e devem ser respeitadas. Islâmicos, negros, ocidentais, orientais ou qualquer outra tradição que seja, precisa ser preservada e passada ao conhecimento de todos para que se diminuído o preconceito e a intolerância étnica e racial. Com as tradições judaicas não pode ser diferente. Devemos respeitar e admirar, pois a maior parte das religiões monoteístas (que acreditam em um único Deus), descendem diretamente do judaísmo.
É de se parabenizar a riqueza da cultura israelita, um povo que mesmo sendo perseguido tantas vezes na história, permanece firme com seus ritos e princípios, transmitindo sua história de geração em geração e que merece todo o nosso respeito.
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