PRAZER, JOAQUIM LEVY!
- Por Hugo Pereira
- 29 de set. de 2015
- 6 min de leitura

Enrolado, passivo e muito otimista. Conheça o homem que é hoje o nome mais falado da economia no governo Dilma
Nestes tempos de crise política, quando ouvimos falar sobre economia o primeiro nome que chega as nossas mentes é o de Joaquim Levy, atual ministro da Fazenda. São entrevistas, pronunciamentos do governo, manchetes, críticas, elogios e tantas outras coisas que envolvem o nome de Levy que nos últimos meses ele se tornou o homem mais falado do governo.
Quando recebemos uma notícia do tipo "ministro da Fazenda Joaquim Levy afirma que 'se precisar pagar impostos a população vai estar preparada para isso”, o pensamento imediato que temos é "quem seria esse indivíduo que fez tal afirmação?". Sendo assim, o mais correto antes de criticar é conhercer a história de Levy que já ocupou cargos importantes e é de vasta experiência no mundo econômico.

QUEM É JOAQUIM LEVY?
Em novembro de 2014, após a reeleição da presidenta Dilma Rousseff, Levy foi nomeado para ministro da Fazenda em substituição a Guido Mantega. Antigo secretário adjunto de política econômica do Ministério da Fazenda no governo FHC, Levy é Ph.D. em economia pela Universidade de Chicago, mestre em economia pela Fundação Getúlio Vargas e também é graduado em engenharia naval pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sua carreira é marcada por uma linha de pensamento econômico considerada "mais liberal”, sendo especialista principalmente na área de contas públicas e tesouro, além de ter trabalhado como economista chefe do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, também no governo de Fernando Henrique em 2001.
Além disso, foi secretário do tesouro nacional por três anos (2003-2006) e em 2007 foi secretário de Estado da Fazenda do Rio de Janeiro no Governo Sérgio Cabral (PMDB), onde ficou até 2010. Antes de ser nomeado por Dilma como ministro da Fazenda, Joaquim foi diretor-superintendente da Divisão de Ativos do Bradesco.
A escolha de Levy como ministro da fazenda gerou grande impacto tanto no mercado financeiro, quanto no mundo político, visto que ele também fez parte do governo FHC. Especialistas do meio econômico tiveram certa surpresa com a escolha, pois Joaquim estava longe do setor público há 4 anos, o que poderia prejudicar seu desempenho. Falou à nossa reportagem a jornalista e apresentadora do programa "Economia e Negócios” da TV Record News, Fátima Turci, que trabalha há mais de 40 anos com jornalismo econômico e opinou sobre o impacto da escolha de Joaquim para o Ministério da Fazenda.

“Ouvi exatamente isso [sobre a desconfiança quanto a nomeação de Levy]. Desde uma ligação dele com a oposição, até uma posição política não muito definida o que eu acho bom, até porque [quem assume] deve servir o país e não a um partido. Ouvi bastante dessa natureza como 'com quem que esle está ligado?' ou 'qual é a sua linha de gestão?' Mas o que dá para perceber é que linha econômica, muito distante, ninguém tem, nem PSDB e nem PT.” diz Fátima.

José Paulo Kupfer, também jornalista especializado em economia e colunista do Estadão, teve uma perspectiva bem pessimista com a escolha de Levy para a Fazenda; “Eu achei que ele não iria ficar lá dois meses”. Kupfer também explicou a razão da surpresa no mundo econômico:
"Foi uma certa surpresa, porque já se sabia que a questão fiscal seria atacada e a idéia de atacá-la com um representante claro de uma corrente diferente da que o PT adere foi realmente uma grande surpresa", cita Kupfer.
LEVY E MANTEGA
Um fator importante para analisarmos o desempenho de Levy é vendo qual foi o legado deixado pelo antigo ministro, Guido Mantega. Apesar do assunto sobre a situação econômica que vive o Brasil ser tão comentado hoje, vale lembrar que entre 2007 e 2010 o mundo passou por uma terrível crise econômica e o Brasil naquela ocasiâo não foi fortemente atingido. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a dizer que a crise seria uma "marolinha". O país utilizou na época a política anticíclica, usando dinheiro do tesouro para segurar a crise, o que deu certo, mas que causaria uma despesa econômica cuja conta deveria ser pagar depois. Levy não é a favor dos mesmos pensamentos econômicos de Mantega, sendo assim, já era certo mudanças nos valores e variações nas diversas áreas da economia.

José Paulo Kupfer explica a principal diferença entre os dois modos de pensar:
"O Levy tem o pensamento de que você constroi os caminhos para o crescimento econômico a partir do equilíbrio fiscal. Ele não acredita muito nisso, enfim, e essa é uma linha de pensamento ortodóxa, a de que o governo tenha uma função além de regular os mercados e que deve ser neutro, deixando que o mercado aloque os recursos e com isso promova o crescimento". Mantega possui outro modo de ver e exercer a política econômica. Ele acredita mais que uma participação do governo seja importante, pois age de uma maneira mais governamentalista. Kupfer explica melhor a posição do ex-ministro:
“Quando você precisa estimular a economia para o crescimento, o governo tem o papel fundamental, além de regular as relações dos agentes econômicos, tem que induzir esse crescimento. Na falta de uma demanda geral para impulsionar a economia, o governo tem o papel central de criar essas produções. Essa é a linha de pensamento do ministro Guido Mantega”, conclui Kupfer.
Já Fátima Turci vai além na comparação, diz sentir saudades de Delfim Neto, ministro da Fazenda na época do Regime Militar:
“Em primeiro lugar eu tenho que dizer que eu sinto saudades do Delfim Neto [como ministro da Fazenda], e de nenhum outro dessa forma. Não é querendo comparar com o Mantega que passou por tudo que o Levy está passando agora. Sinto saudades de uma visão muito mais abrangente, em primeiro lugar; em segundo lugar, tenho saudade de autoridade, que não significa autoritarismo ou totalitarismo. Tudo isso que eu tanto condenei na época do próprio Delfim. Agora o que falta pro Levy é essa capacidade de dizer ‘só faço isso, se fizerem aquilo ou aquilo outro’. O receituário utilizado é provavelmente aquele que qualquer estudante de economia faria e é nisso que eu acho que falta autoridade”. Fátima ainda afirma que "o receituártio é muito básico e que qualquer estudante de economia o faria", diz.
JEITO DE GOVERNAR
Outra coisa que chama atenção, de forma negativa, em Joaquim Levy é sua passividade em relação a alguns assuntos. Em entrevista ao "Jornal da Globo", apesar de otimista, o ministro se mostrou incoerente em algumas respostas e deixou a desejar em vários pontos. Quando perguntado sobre o fato de o País ter a nota de crédito rebaixada pela agência internacional Standard & Poor's, Levy minimizou o problema, dizendo que "é apenas uma avaliação para ver se nós estamos olhando com seriedade este problema e que a sociedade, o Congresso e o governo já estão fazendo isso".
Em contra partida, Joaquim Levy tem um olhar bastante otimista em relação as contas do governo e vem discursando que 2015 e 2016 não estão perdidos. Sobre isso opina nossas entrevistados: "Não é pra estar otimista a curto prazo, mas a médio e longo prazo por dois motivos: o primeiro é que a economia é um ciclo e pode melhorar e segundo que se olharmos ao longo da história, o Brasil, aos trancos e barrancos, vem sempre se reergendo", é o que declara sobre isso João Paulo Kupfer.
"Não, eles [o governo] não estão perdidos, eles estão à quem do perdido; estão perdidos em todos os sentidos porque o País não está crescendo e nossa economia está encolhendo e não é somente o PIB que vai empacar, vai fechar abaixo do esperado", acentua Fátima.
"O BRASILEIRO ENTENDERÁ..."
Sobre a declaração do ministro de que "o brasileiro entenderá caso precise pagar mais impostos", nossos entrevistados tiveram uma opinião contrária a de Joaquim Levy e explicaram o motivo da discordância. Fátima Turci acredita que o brasileiro não tem opção e José Paulo Kupfer crê que é necessário mudar a forma de se cobrar tributos. Veja abaixo a declaração de Joaquim Levy ao Jornal da Globo e trechos das entrevistas:
Existem problemas a serem resolvidos e será necessário um grande empenho por conta dos governantes para amenizarmos a atual crise. Entretanto, a baixa popularidade do governo Dilma e discursos desconexos podem atrapalhar. Desde que assumiu, Levy vem sofrendo com isso e terá que se reciclar para que o País atinga novamente status de economia emergente e um lugar decente no cenário econômico mundial. No entanto, para isso, o governo precisará articular melhor sua política econômica de forma mais coerente e Joaquim Levy deixar de ser o homem mais falado no cenário de crise financeira atual para ser o nome forte de nossa economia. Haja trabalho companheiro!

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